"Passei a madrugada acordado. Fui dormir quase 1h, tomei um relaxante, mas acordei às 3h. Estava contando as horas. Lá pelas 7h30, acabei não aguentando e apaguei. Quando acordei, foi com a ligação do Raphael [Moreira, técnico da seleção paralímpica de tênis de mesa]. Ele não ligaria para me dar uma má notícia [risos]. Foi uma coisa surreal. É o sonho de qualquer atleta participar de uma Paralimpíada. Será a minha segunda", contou David à Agência Brasil.
Dono de três medalhas de ouro em Parapans (duas por equipes e uma individual), David é natural de Fortaleza e viveu lá por 37 anos antes de se mudar para Eusébio, cidade da região metropolitana da capital, onde concilia os treinos com a profissão de agente de trânsito no Departamento Estadual de Trânsito (Detran) local. Chefe do posto municipal, envolve-se tanto na parte burocrática como na fiscalização propriamente dita.
"Gosto mais de trabalhar com fiscalização. Sempre preferi lidar com o público, na blitz, onde sou bastante atuante. [Sobre equilibrar trabalho e competição] Graças a Deus, nunca houve objeção. Pelo contrário, tanto Detran como o governo do estado sempre foram solícitos em me liberar para competições. Saber que tinham um atleta no quadro de funcionários era uma coisa importante para eles", afirmou o mesatenista.
Durante boa parte da pandemia do novo coronavírus (covid-19), David precisou se dedicar quase que integralmente ao trabalho como agente, com atuação nas barreiras sanitárias. Além disso, o fechamento de academias em razão do lockdown pelo qual passou o Ceará dificultou a preparação.
"Isso [ficar sem treinar] me trouxe alguns males. Fiquei com ansiedade, um pouco depressivo, com temores. Coisas que o esporte [inibia] pela serotonina. Quando retomei as atividades, depois de vacinado, foi só alegria e felicidade. A vacinação foi importantíssima. Mantenho os cuidados necessários, mas aquele medo que estava me freando diminuiu 90%. Sou um cara muito feliz com a modalidade que pratico. O esporte me reinseriu na sociedade. [Depois da cirurgia de 2004] Passei muito tempo retraído, por conta de preconceito, das pessoas taxarem de coitadinho. Eu era muito ativo, comunicativo. Tive depressão, emagreci muito. O esporte me deu prumo na vida", destacou o cearense.
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David estreou em Paralimpíadas na edição passada, no Rio de Janeiro. Em simples, parou ainda na fase de grupos. No torneio por equipes, ele e o paranaense Welder Knaf chegaram à disputa do bronze, mas foram surpreendidos pelos tailandeses Anurak Laowong e Yuttajak Glinbancheun (este último até então desconhecido no circuito). Cinco anos depois, a parceria Ceará/Paraná estará novamente lado a lado na mesa.
Paralimpíada 2016, Rio de Janeiro/Alexandre Urch/MPIX/CPB"Apesar de morarmos em extremos do país, temos uma afinidade grande em nosso jogo. Temos mais êxitos juntos do que derrotas. Às vezes, jogamos duas, três vezes juntos no ano. A gente sabe que a logística dificulta, mas temos um bom entrosamento. Por pouco não ganhamos medalha no Rio, mas acredito que, nesta agora, não vamos deixar escapar", disse o mesatenista nordestino, que confia em um rendimento melhor em Tóquio do que teve no Brasil.
"Por incrível que pareça, prefiro jogar fora de casa. Acabo jogando mais à vontade. No individual, acho que o calor da emoção acabou afetando um pouco [no Rio]. Acredito que, em Tóquio, chego mais experiente, entendendo a magnitude da competição", avaliou David.
Além do cearense, também conquistaram vagas por convite Marliane Santos (classe 3) e Millena França (7). Cinco atletas da delegação se classificaram para os Jogos graças ao ouro no Parapan de Lima: Joyce Oliveira (4), Paulo Salmin (7), Luiz Filipe Manara (8), Danielle Rauen (9) e Carlos Carbinatti (10). Outros cinco se credenciaram via ranking mundial das respectivas classes: Cátia Oliveira (2), Welder Knaf (3), Israel Stroh (7) e Lethícia Lacerda (8). Por fim, Jennyfer Parinos (9) foi campeã da seletiva internacional da categoria.
O Brasil conquistou cinco medalhas no tênis de mesa na história da Paralimpíada. A primeira, de prata, veio nos Jogos de Pequim (China), em 2008, com a dupla Welder e Luiz Algacir Silva na classe 3. Na Rio 2016, foram quatro pódios. No individual, Israel Stroh levou a prata na classe 7 e Bruna Alexandre obteve o bronze na classe 10. Na disputa por equipes, mais dois bronzes: um com Iranildo Espíndola, Guilherme Costa e Aloísio Lima (classes 1 e 2) e outro com Bruna Alexandre, Danielle Rauen e Jennyfer Parinos (classes 6 a 10).
Em Tóquio, as disputas do tênis de mesa começam no dia 25 de agosto, com as chaves individuais, que seguem até dia 30. De 31 de agosto a 3 de setembro, ocorrem os torneios por equipes.
Fonte: Agência Brasil