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Morre Dona Cabeluda. Enterro da maior cafetina da Bahia comove baianos

Por PH em 13/05/2024 às 20:39:57
Reprodução

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Cabeluda poderia dizer com propriedade que a vida dela daria um romance, e não estaria exagerando se acrescentasse: de Jorge Amado.

O nome dela é Renildes Alcântara dos Santos, mas pelo seu nome oficial ninguém a conhece em Cachoeira nem em todo o Recôncavo ou na Bahia.

Aliás, Renildes sempre fez questão de esconder seu nome verdadeiro. Preferia ser chamada pelo apelido que lhe deram e a tornou famosa: Cabeluda, por ter muitos pelos no corpo.

Cabeluda parece personagem extraída de um romance de Jorge Amado. Sua história de vida é um romance de Amado não escrito, mas vivido.
Obrigada pela família a se casar aos 13 anos com um homem muito mais velho, Renildes aguentou o quanto pôde. Mas, aos 20 anos, fugiu e foi parar, por uma dessas coincidências da vida, na terra natal de Jorge Amado, Itabuna (BA).

Sozinha, Renildes teve que se virar como podia, inclusive fazendo aquilo que você está pensando, a prostituição. De lá foi para Feira de Santana, até que chegou a Cachoeira, cidade onde ficou até morrer na segunda passada, dia 6. Foi em Cachoeira que Renildes passou a ser "Cabeluda".

Lá, começou trabalhando num "brega", um termo regional no Nordeste que significa boate, casa noturna ou de prostituição. Logo, montou o seu, o "Brega da Cabeluda", o mais famoso do Recôncavo Baiano.

Tão famoso que levou uma natural de Cachoeira, Gleysa Teixeira Siqueira, a defender uma tese de mestrado sobre ela, "Uma História de Cabeluda: Mulher, Mãe e Cafetina".

Melhor, a tese foi defendida não na UFRB (Universidade Federal do Recôncavo Baiano), mas no próprio Brega da Cabeluda.

A história da "última cafetina" de Cachoeira, no Recôncavo, levou pesquisadores e até quem nunca tinha frequentado "uma casa de tolerância" a entrar no "Brega de Cabeluda", como é conhecida a casa de número 12 na Rua Sete de Setembro.

Foi na terça-feira, 5 de julho de 2017, e o motivo era a defesa da dissertação de mestrado de Gleysa Teixeira. Formada em história pela UFRB e agora mestre em ciências sociais, a pesquisadora decidiu contar sobre uma das lendas vivas da cidade.

"Minha ideia era dar visibilidade à história de Cabeluda, que faz parte dessas mulheres estigmatizadas, marginalizadas e excluídas. Ela conseguiu sobreviver e se manter e, apesar do patriarcado, fez um nome na sociedade. Ela é praticamente uma lenda viva da cidade".

Para Gleysa, o fato de apresentar o trabalho no "brega" também serviu para desconstruir e tirar o véu negativo do lugar.

"Na minha infância ouvi muito as pessoas falarem, "ah, mulher direita não pode andar na rua do brega", e muita gente não passava mesmo. Eu sei que existem questões atuais que envolvem crimes em alguns lugares. Mas a gente também tem que quebrar estas visões estereotipadas. Porque o exemplo de Cabeluda é de empoderamento. Não há relato de que ela explorava as mulheres", argumenta. [Bahia Notícias]
Cabeluda e Gleysa Teixeira

Diferentemente de outras cafetinas, Cabeluda nunca agenciou ou cobrou agenciamento das prostitutas do local. Cobrava apenas pelo aluguel do quarto.

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Cabeluda faleceu no Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Cachoeira, aos 79 anos. A causa da morte ainda não foi divulgada.

Na abertura da sessão ordinária da Câmara Municipal da Cachoeira, os vereadores fizeram um minuto de silêncio em sua homenagem.

O caminho de seu corpo ao cemitério atravessou a cidade com uma pequena multidão acompanhando. Que seria certamente muito maior caso todos os frequentadores ocultos do Brega da Cabeluda tirassem a máscara e aparecessem por lá.

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Fonte: Revista Forum

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