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MĂ©dicos alertam para riscos de cirurgia de mudança da cor dos olhos

A mudança da cor dos olhos por meio de pigmentação feita em intervenção cirúrgica é procedimento de alto risco, com resultados irreversíveis, e deve ser realizado apenas sob estrita recomendação médica.

Por PH em 12/01/2024 às 20:40:47

A mudança da cor dos olhos por meio de pigmentação feita em intervenção cirĂșrgica é procedimento de alto risco, com resultados irreversĂ­veis, e deve ser realizado apenas sob estrita recomendação médica. O alerta é do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), que chama a atenção para publicações em redes sociais de pessoas que alegam terem se submetido à chamada ceratopigmentação com fins meramente estéticos, mais conhecido como tatuagem da córnea.

Na maioria das vezes, tal procedimento é indicado somente para pacientes com cegueira permanente (ou com baixa visão extrema) com o objetivo de tentar recuperar a aparĂȘncia de um olho normal. Dentre os problemas que podem ser causados pelo uso indevido dessa técnica estão o surgimento de lesões na córnea, que podem ser persistentes e levar à perfuração do olho, infecções graves (até no interior do olho), e aumento da pressão dentro do olho.

Pacientes que jĂĄ usaram a técnica informam dificuldade de enxergar, dor no olho, ardĂȘncia, sensação de areia, aversão à luz e lacrimejamento persistente. Todas essas situações podem levar à redução da visão do paciente, seja na periferia ou no centro da visão, evoluindo, em alguns casos, para a cegueira permanente.

Micropigmentos

Na chamada "tatuagem da córnea", ou ceratopigmentação, é empregada uma técnica cirĂșrgica na qual micropigmentos de diferentes cores são implantados nas camadas mais internas da córnea para alterar sua coloração. O procedimento é destinado, principalmente, ao tratamento de manchas brancas que acometem os olhos de pacientes cegos.

"Muitos pacientes que apresentam cegueira permanente em um olho sofrem com o estigma social que sua aparĂȘncia pode provocar. A ceratopigmentação é uma técnica indicada para casos em que o paciente cego não se adapta à lente de contato cosmética (lente de contato colorida), ou quando não hĂĄ indicação de evisceração ou enucleação (retirada do globo ocular) para adaptação de prótese ocular", esclarece a cirurgiã oftalmologista Juliana Feijó Santos.

"É importante enfatizar que a ceratopigmentação refere-se apenas à coloração corneana, sendo a modificação da coloração escleral (a parte branca do olho) totalmente proscrita (não deve ser realizada)", destaca.

A ceratopigmentação ganhou visibilidade no paĂ­s nos primeiros dias de 2024 após a publicação de vĂ­deo em rede social no qual uma brasileira com visão saudĂĄvel afirma que realizou a cirurgia para mudar a cor dos olhos na SuĂ­ça. As imagens foram compartilhadas na pĂĄgina da clĂ­nica responsĂĄvel pelo procedimento e jĂĄ ganharam mais de 14 milhões de visualizações.

No Brasil, o uso da ceratopigmentação para fins estéticos é desaconselhado pelo CBO em pacientes saudĂĄveis. Segundo o conselho, o procedimento é recomendado exclusivamente para pessoas que perderam a visão e pode ser realizado apenas quando a córnea jĂĄ estĂĄ comprometida. O Conselho Federal de Medicina (CFM) também não autoriza o uso da técnica com essa finalidade.

"Como em todos os procedimentos cirĂșrgicos, os principais riscos são de infeção e inflamação do olho operado", alerta Juliana Feijó, especialista em córnea. Ela ressalta ainda que são poucas as evidĂȘncias cientĂ­ficas dos efeitos de longo prazo do uso de pigmento no estroma corneano, corroborando a necessidade de cautela na busca pela ceratopigmentação. Outro ponto do alerta do CBO vem do fato da ceratopigmentação dificultar futuros exames e procedimentos oculares, como o mapeamento de retina e a cirurgia de catarata.

Biossegurança

Segundo a médica, mesmo como prĂĄtica reparadora usada no atendimento de pacientes cegos, a cirurgia só deve ser realizada em um cenĂĄrio em que sejam observados cuidados de biossegurança e com uma boa orientação pós-operatória, pois trata-se de um ato médico invasivo e de alto risco.

"É muito importante estar atento ao estado prévio do olho a ser operado, uma vez que a patologia de base pode influenciar nas intercorrĂȘncias, como perfurações em córneas finas, neoplasias [tumores] não diagnosticadas previamente, ou até o desenvolvimento de herpes ocular, ou rejeição de um transplante de córnea preexistente", acrescenta Juliana.

Quanto à infraestrutura do local do atendimento, o CBO diz que deve ser realizado em centro cirĂșrgico e com o paciente anestesiado. No pós-operatório, é imprescindĂ­vel um seguimento clĂ­nico e uso correto dos colĂ­rios, para redução de riscos. Para pessoas que pretendem mudar sua imagem com a mudança na cor dos olhos, a indicação é de uso de outras estratégias, bem mais seguras.

De acordo com a presidente do CBO, Wilma Lelis, pessoas com boa saĂșde ocular que, por motivos estéticos, desejem mudar a cor dos olhos tĂȘm como melhor alternativa o uso de lentes de contato cosméticas. Wilma alerta que mesmo elas devem ser usadas sempre com acompanhamento de um oftalmologista e os cuidados de higiene adequados, visto que a lente também interfere na biologia lacrimal e da superfĂ­cie ocular com potenciais riscos.

"O CBO recomenda que, em qualquer situação, medidas que possam trazer impacto na saĂșde ocular sejam amplamente discutidas com um médico oftalmologista. Ao fazermos essa orientação, com base em conhecimento técnico e cientĂ­fico reconhecido, queremos proteger a saĂșde da população e chamar a atenção para eventuais riscos aos quais pode ser exposta desnecessariamente", concluiu Wilma.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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