Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia (CPIPANDEMIA) realiza oitiva do ex-secretĂĄrio de SaĂșde do Amazonas. O objetivo é esclarecer o colapso no estado no inĂcio de 2021, com falta de leitos e de oxigĂȘnio medicinal nos hospitais que - Marcos Oliveira/AgĂȘncia Senado
Ajuda
Sobre o pedido de ajuda ao governo federal, CampĂȘlo disse que procurou o então ministro da SaĂșde, Eduardo Pazuello, antes do colapso no estado. O primeiro contato, segundo ele, teria ocorrido trĂȘs dias antes do relatado ao colegiado pelo ex-ministro em depoimento no mĂȘs passado. Na conversa, CampĂȘlo disse que pediu apoio logĂstico ao então ministro para levar cilindros de oxigĂȘnio a Manaus. "Fiz uma ligação ao ministro Pazuello no dia 7 de janeiro por telefone explicando a necessidade de apoio logĂstico para trazer oxigĂȘnio de Belém a Manaus, a pedido da White Martins [fornecedora dos cilindros]. A partir daĂ, fizemos contato com o Comando Militar da Amazônia, por orientação do ministro, para fazer esse trabalho logĂstico", disse CampĂȘlo na CPI. "Não houve resposta, que eu saiba", afirmou.
O ex-secretĂĄrio avaliou que a saĂșde pĂșblica do Amazonas tem problemas "históricos e crônicos" e que, na sua gestão, foi realizada a integração de dados entre Manaus e outras cidades do estado. Ainda sobre as providĂȘncias tomadas, CampĂȘlo citou a alteração no atendimento do Hospital Delphina Aziz, que passou a atender exclusivamente pacientes com covid-19. O ex-gestor também relacionou medidas não farmacológicas e a chegada das vacinas como balizadores da Secretaria de SaĂșde do Amazonas para o combate à pandemia no estado.
White Martins
Aos senadores, CampĂȘlo afirmou que em 7 de janeiro deste ano a empresa fornecedora de oxigĂȘnio White Martins chegou a pedir que o estado não ativasse novos leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) até que a companhia pudesse ampliar o fornecimento do oxigĂȘnio. "Estavam preocupados com aumento de consumo e precisariam fazer uma programação do fornecimento. Então, a White Martins pediu que não ativĂĄssemos mais nenhum leito de UTI até o sinal da empresa que poderia ter segurança para a ampliação do fornecimento de oxigĂȘnio, e assim fizemos, ativar somente na anuĂȘncia da empresa com segurança. AĂ, nesse dia, informamos que tĂnhamos capacidade de aumentar em 150 leitos", disse ele.
Apesar do pedido, CampĂȘlo disse que a paralisação não foi necessĂĄria jĂĄ que, no mesmo dia, uma quinta-feira, a White Martins apresentou uma programação de fornecimento de oxigĂȘnio, em que novas cargas do insumo começariam a chegar no sĂĄbado. No depoimento, ele acrescentou que, no dia 7, a White Martins também solicitou apoio do governo estadual para uma requisição administrativa. A empresa enfrentava dificuldades para comprar um estoque de 20 mil metros cĂșbicos de oxigĂȘnio disponĂveis em uma outra empresa, a Carbox. "Consultei o setor jurĂdico [do governo] e foi orientado que a White Martins formalizasse pedido para fazermos esse processo", explicou.
Usinas
CampĂȘlo reconheceu que o governo estadual não comprou usinas de oxigĂȘnio para suprir a demanda nem antes nem depois da crise ocorrida no mĂȘs de janeiro. Segundo ele, foram abertos, sem sucesso, processos de compra.
Sobre recursos destinados ao Amazonas por emendas parlamentares ou pelo fundo estadual da saĂșde e não utilizados pela secretaria para custeio de unidades hospitalares, o ex-gestor foi questionado, por exemplo, sobre por que a pasta que comandava atrasava o pagamento de fornecedores de oxigĂȘnio. CampĂȘlo respondeu que esse jĂĄ era um problema crônico antes mesmo de ele assumir o cargo na secretaria e que hĂĄ processos nesse sentido em andamento.
Imunidade de rebanho
Perguntado pelo relator do colegiado, senador Renan Calheiros (MDB-AL), se uma suposta imunidade de rebanho gerada pela primeira onda de casos de covid-19 no Amazonas teria orientado as polĂticas pĂșblicas de saĂșde, CampĂȘlo negou. "Essa tese nunca foi ventilada em qualquer reunião da qual eu tenha participado", disse.
Ao falar das medidas tomadas para fortalecer o sistema de saĂșde após a primeira onda, o ex-secretĂĄrio disse que houve ampliação de leitos e que eliminaram espaços ociosos em maternidades para atendimento à população. Apesar disso, ele observou que hĂĄ um "gargalo" de leitos de UTI e que a gestão também é dificultada pela questão logĂstica pelo acesso aéreo e fluvial.
Respiradores
O ex-secretĂĄrio de SaĂșde do Amazonas disse ainda que, no inĂcio da pandemia, durante a crise da primeira onda em Manaus, cerca de 80 respiradores foram enviados para a capital amazonense na gestão de Luiz Henrique Mandetta. Alguns dos equipamentos, no entanto, estavam com "problemas e inadequados": ao menos dez aparelhos foram devolvidos por serem de uso veterinĂĄrio.
Hidroxicloroquina
Sobre o envio pelo governo federal ao estado de 120 mil comprimidos de hidroxicloroquina depois de uma visita da secretĂĄria de Gestão do Trabalho e da Educação, Mayra Pinheiro, no dia 4 de janeiro ao Amazonas, CampĂȘlo disse que a remessa foi realizada para tratamento da covid-19. A solicitação, segundo ele, foi feita porque os estoques do remédio estavam "zerados", e pelo fato de ele ser utilizado também no tratamento de outras patologias, como a malĂĄria.
Histórico
Marcellus CampĂȘlo inaugura a fase de depoimentos de gestores estaduais à CPI. Investigado pela PolĂcia Federal por supostas fraudes na contratação de hospitais de campanha e uso de verbas federais, ele comandou a saĂșde do estado do Amazonas até o Ășltimo dia 7 de junho, quando pediu exoneração do cargo após ser preso na Operação Sangria. A primeira autoridade convocada da esfera estadual foi o governador do Amazonas, Wilson Lima. Às vésperas do dia marcado para o depoimento, na semana passada, o polĂtico conseguiu um habeas corpus junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o liberou da obrigação.
AgĂȘncia Brasil