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BCG previne riscos imediatos; crianças devem ser vacinadas ao nascer

O direito à imunização dos bebês começa antes mesmo do nascimento, com o calendário vacinal das gestantes, que protege mãe e filho contra difteria, tétano, coqueluche e hepatite B.

Por PH em 08/09/2023 às 09:54:51
Divulgação

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O direito à imunização dos bebĂȘs começa antes mesmo do nascimento, com o calendĂĄrio vacinal das gestantes, que protege mãe e filho contra difteria, tétano, coqueluche e hepatite B. Ao nascer, essa proteção deve receber um reforço imediato, que inclui uma das vacinas mais conhecidas pelos brasileiros: a BCG.

A indicação do Ministério da SaĂșde, por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), que completa 50 anos em 2023, é que a BCG seja aplicada nas primeiras 12 horas após o nascimento, ainda na maternidade, em bebĂȘs de pelo menos 2 quilos. Os menores que isso devem esperar atingir esse peso até receber a vacinação. Quando a vacina não é administrada na maternidade, ela deve ser aplicada na primeira visita ao serviço de saĂșde.

Pediatra Renato Kfouri diz que pais devem ficar de olho no prazo de aplicação da BCG - SBIm/Divulgação

O pediatra Renato Kfouri, presidente do Departamento CientĂ­fico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), explica que a recomendação de vacinar as crianças com a BCG ao nascer tem um motivo técnico, porque os riscos de adoecer são imediatos, e esse prazo não deve ser perdido pelos responsĂĄveis.

"As vacinas são organizadas dentro de um calendĂĄrio em função de riscos. Não colocamos uma vacina no calendĂĄrio da criança contra uma doença que acomete adolescentes ou idosos. VocĂȘ organiza o calendĂĄrio de maneira a cobrir a fase de maior risco de adoecimento. É justamente no primeiro ano de vida, quando a criança tem imaturidade do sistema imune, em que essas doenças são mais frequentes e mais graves, como pneumonia, coqueluche, difteria, paralisia infantil, tétano, meningite. Essas vacinas incluĂ­das nas primeiras doses são para oferecer à criança maior proteção logo após o nascimento."

Tuberculose grave

A vacina previne contra formas graves da tuberculose, especialmente a tuberculose disseminada e a meningite tuberculosa. A doença é transmitida pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, mais conhecida como bacilo de Koch, em referĂȘncia ao cientista alemão que a descobriu no século 19.

A tuberculose é uma das mais antigas ameaças de saĂșde pĂșblica identificadas pela ciĂȘncia, jĂĄ tendo sido chamada de tĂ­sica, temida como a peste branca e até romantizada como causa da morte de poetas, como Castro Alves e Noel Rosa, no caso do Brasil.

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Apesar de a vacinação ter reduzido a letalidade da tuberculose, a doença permanece presente no contexto nacional, com 78 mil casos confirmados em 2022. Por isso, bebĂȘs não vacinados estão em risco de se contaminar e desenvolver formas graves da doença.

"Infelizmente, a tuberculose ainda é endĂȘmica no Brasil, e precisamos oferecer uma vacina para as crianças o quanto antes, antes de se expor ao bacilo da tuberculose. Por isso, devem ser vacinadas imediatamente", reforça

Kfouri.

A Organização Mundial da SaĂșde (OMS) estima que a BCG previna mais de 40 mil casos anuais de meningite tuberculosa. Mesmo quando a vacina não consegue impedir que a criança tenha tuberculose, os casos registrados são mais brandos. Em 2022, o Brasil contabilizou 2,7 mil casos de tuberculose em menores de 15 anos, sendo que crianças de até 4 anos respondem por 37% dessas notificações.

Marquinha da BCG

Entre outros motivos, a vacina ficou famosa por causar a "marquinha da BCG", que antigamente indicava que ela fez efeito. Essa recomendação mudou, e a vacinação não precisa ser refeita caso não ocorra a formação da cicatriz vacinal.

A Sociedade Brasileira de Imunizações explica que a formação dessa cicatriz demora cerca de trĂȘs meses (12 semanas), podendo se prolongar por até seis meses (24 semanas). O processo começa com uma mancha vermelha elevada no local da aplicação, evolui para pequena Ășlcera, que produz secreção e cicatriza.

Eventos adversos considerados normais após a vacinação com BCG são Ășlceras com mais de 1 centĂ­metro ou que demoram muito a cicatrizar, gânglios ou abscessos na pele e nas axilas, que chegam a 10% dos vacinados.

Vacina BCG protege contra formas graves da tuberculose

- Prefeitura de Manaus/Divulgação

Cobertura baixa

A meta de cobertura da BCG é a menor do Programa Nacional de Imunizações. Enquanto as doses

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contra a febre amarela devem chegar a 100% do pĂșblico-alvo, e as demais, a 95%, a vacina contra as formas graves da tuberculose tem meta de 90% de cobertura nas crianças nascidas em cada ano.

Mesmo assim, essa cobertura não foi atingida nos anos de 2019, 2020 e 2021, o que pode ter criado um contingente de crianças desprotegidas contra as formas graves da tuberculose.

Em 2022, a cobertura voltou a subir e chegou à meta de 90%, mas o resultado nacional não foi homogĂȘneo. Acre (80%), Roraima (85%), ParĂĄ (83%), Maranhão (83%), Bahia (86%), EspĂ­rito Santo (63%), Rio de Janeiro (76%), São Paulo (82%), Santa Catarina (85%), Mato Grosso do Sul (84%) e GoiĂĄs (79%) não atingiram a meta.

História de mais de um século

A vacina BCG (Bacilo Calmette-Guérin) começou a ser desenvolvida em 1906, no Instituto Pasteur, em Paris, por Léon Charles Albert Calmette (1863–1933) e Jean-Marie Camille Guérin (1872–1961). A comprovação de que a vacina funcionava em humanos se deu apenas em 1921, 15 anos depois.

A chegada do imunizante ao Brasil foi em 1927, quando uma cepa da bactéria atenuada, a cepa Moreau, foi enviada pelo Pasteur. Aqui, a BCG começou a ser produzida pela Liga Brasileira contra a Tuberculose. Somente em 1941, porém, o recém-criado Serviço Nacional de Tuberculose (SNT) passou a recomendar a BCG a todos os governos estaduais.

Na época, a forma de imunização ainda era oral, por meio de gotinhas, e só em 1968 a vacina começou a ser substituĂ­da pela forma intradérmica, aplicada com seringa.

Presente no Brasil desde antes de o PNI ter sido criado, a BCG fez parte do primeiro calendĂĄrio de vacinação infantil do paĂ­s, definido em 1978. Além dela, estavam incluĂ­das nessa primeira esquematização a proteção contra a varĂ­ola

e as vacinas do primeiro ano de vida: poliomielite; sarampo; e difteria, tétano e coqueluche.

De lĂĄ para cĂĄ, houve mudanças no esquema vacinal da BCG, que alternou entre dose Ășnica e duas doses em diferentes perĂ­odos. A Ășltima mudança foi o retorno à dose Ășnica, em 2006.

Fabricação da vacina

A vacina BCG é um imunizante de vĂ­rus vivo atenuado: isso significa que ela contém a própria bactéria causadora da tuberculose, porém bem enfraquecida, de modo que não possa causar a doença.

Herdeira da Liga Brasileira contra a Tuberculose, a Fundação Ataulfo de Paiva (FAP) é a Ășnica instituição que produz a vacina BCG no Brasil, desde que a amostra do bacilo atenuado chegou da França, hĂĄ quase um século.

Entretanto, a fĂĄbrica da FAP, no bairro de São Cristóvão, na zona norte do Rio, segue parada hĂĄ mais de um ano após interdição da AgĂȘncia Nacional de Vigilância SanitĂĄria (Anvisa). Em consequĂȘncia disso, o Ministério da SaĂșde

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vem importando o imunizante por meio do Fundo Rotatório da Organização Pan-Americana da SaĂșde (Opas).

Uma fĂĄbrica em Xerém, na cidade fluminense de Duque de Caxias, chegou a ser planejada, mas a obra nunca foi concluĂ­da. Sem a previsão de fĂĄbrica nova ou de liberação da planta antiga, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) assinou um termo de manutenção com a FAP, para que ela possa recuperar a capacidade e as condições de operação para a produção nacional da vacina BCG.

Com esse acordo, o Instituto de Biologia Molecular do ParanĂĄ (IBMP) e o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) vão atuar em curto e médio prazo para adequar a fĂĄbrica antiga e concluir a nova. O IBMP também se tornarĂĄ mantenedor da Fundação Ataulfo de Paiva (FAP), assumindo a responsabilidade por validar a composição da diretoria e dos conselhos deliberativo e fiscal.

Para garantir a oferta da vacina, a Fiocruz negocia com uma fĂĄbrica na cidade de Vigo, na Espanha, que teria condições imediatas para operar a produção da vacina BCG da FAP. A BCG produzida na FAP, ainda descendente da cepa vinda da França, é chamada de BCG Moreau Rio de Janeiro, com certificação da OMS e da Anvisa. Por meio do acordo, essa fĂĄbrica espanhola produziria essa mesma cepa, jĂĄ certificada. Mesmo assim, serĂĄ necessĂĄrio que a Anvisa realize a inspeção do novo local de fabricação com vistas à obtenção da certificação de boas prĂĄticas. Caso todos os prazos e objetivos se concretizem, a expectativa seria poder voltar a entregar vacinas a partir do segundo semestre de 2024.

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Fonte: AgĂȘncia Brasil

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