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Mais de 23 milhões de eleitores estão aptos a votar

Mais de 156,45 milhões de pessoas estão aptas a votar no próximo dia 2 de outubro, quando os brasileiros começarão a escolher o próximo...

Por PH em 06/08/2022 às 10:32:11

Mais de 156,45 milhões de pessoas estão aptas a votar no próximo dia 2 de outubro, quando os brasileiros começarão a escolher o próximo presidente da RepĂșblica, além dos futuros governadores, senadores e deputados federais, estaduais e distritais. Neste universo heterogĂȘneo de cidadãos, ao menos 23,34 milhões de eleitores e eleitoras atenderão ao compromisso cĂ­vico por vontade própria, jĂĄ que não são obrigados a votar.

A Constituição Federal estabelece o voto facultativo, ou seja, opcional, para os jovens de 16 e 17 anos de idade; pessoas com 70 anos ou mais e também para analfabetos. Só os eleitores que declaram não saber ler, nem escrever, ultrapassam os 6,33 milhões de pessoas, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Um nĂșmero que representa cerca de 4% de todas as pessoas em condições legais de votar.

A diarista Maria Sônia Ribeiro da Silva, 50 anos, é uma dessas pessoas. Ainda que, a rigor, sua participação nos pleitos anteriores não tenha sido exatamente espontânea. "Até hoje, eu não sabia que não era obrigada a votar", reagiu a diarista ao ser informada, pela reportagem, que, na condição de analfabeta, não teria sofrido sanções caso tivesse deixado de votar em eleições passadas. Abolido em 1881, o direito dos analfabetos ao voto só foi restituĂ­do em 1985, por meio de uma Emenda Constitucional que garantiu a uma parcela da população que, à época, era ainda maior, o direito a ajudar a escolher seus representantes polĂ­ticos.

"Eu votava porque achava que era o jeito. Que perderia o tĂ­tulo de eleitor, pagaria multa, caso não comparecesse. Até falei com meu marido que, se não fosse obrigatório, eu não votaria mais, porque é sempre a mesma coisa, as mesmas promessas. Por outro lado, também acho importante a gente participar, tentarmos fazer com que o paĂ­s melhore. Tanto que, agora, sabendo que não sou obrigada, acho que vou repensar e, talvez, continuar indo votar", destacou a diarista, explicando que costuma se informar sobre polĂ­tica pelos telejornais e conversando com parentes e amigos e na hora de votar, leva consigo uma "cola" com o nĂșmero dos seus candidatos.

De acordo com o Ășltimo censo populacional realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e EstatĂ­stica (IBGE), em 2010, a taxa de analfabetismo entre a população de 15 anos ou mais tinha caĂ­do de 13,63%, em 2000, para 9,6%, totalizando 13.933.173 em 2010. Pelos dados disponibilizados pelo TSE, este ano, o maior nĂșmero de eleitores que se autodeclararam analfabetos no momento do alistamento eleitoral tem entre 70 a 74 anos de idade, superando as 730 mil pessoas.

Jovens e Idosos

Além dos analfabetos, hĂĄ, entre os dito eleitores espontâneos, 815.063 pessoas com 16 anos de idade e outros 1.301.718 que jĂĄ completaram 17 anos. Juntos, os dois grupos somam 2.116.781 eleitores. Um nĂșmero cerca de 50% superior aos 1.400.617 registrados em 2018.

JĂĄ o total de eleitores e eleitoras com mais de 70 anos de idade aumentou de 12,02 milhões, em 2018, para 14.893.281, em 2022. Destes, 184.438 tĂȘm mais de 100 anos - dentre os quais, 45,4 mil não sabem ler ou escrever.

FavorĂĄvel à tese de que o voto deveria deixar de ser obrigatório e passar a ser facultativo para toda a população brasileira, o cientista polĂ­tico Antonio Lavareda acredita que o crescente nĂșmero de pessoas votando sem ser obrigadas indicam um "maior nĂ­vel de consciĂȘncia cĂ­vica" e de interesse pela polĂ­tica.

"As pesquisas tĂȘm demonstrado que as pessoas vĂȘm manifestando um inusual grau de interesse pela polĂ­tica, mais especificamente pelo pleito deste ano. O que pode ser um indicador de que a participação eleitoral pode vir a ser maior que na eleição de 2018, quando a abstenção superou os 30 milhões de eleitores", disse Lavareda à AgĂȘncia Brasil.

"O crescimento do nĂșmero de eleitores com 70 anos ou mais e de jovens com 16 e 17 anos acompanha o manifesto interesse do restante da população pelo pleito deste ano. E serĂĄ muito bom para o processo democrĂĄtico se a alienação eleitoral registrada na Ășltima eleição for menor", acrescentou o cientista polĂ­tico ao pontuar que, apesar das poucas pesquisas acadĂȘmicas sobre os eleitores espontâneos, é possĂ­vel afirmar que, confirmada a hipótese deles serem mais interessados, tendem a ser mais "ideologizados", tendo preferĂȘncias mais "articuladas e consolidadas". "Com isso, quem tende a ser menos beneficiado por estes votos são os candidatos situados mais ao centro do espectro polĂ­tico ideológico".

Professora e pesquisadora do Centro de Estudos de Opinião PĂșblica (Cesop), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a também cientista polĂ­tica Rachel Meneguello considera que a motivação para o voto espontâneo estĂĄ associada ao interesse pela polĂ­tica e à percepção da importância de que, em uma democracia representativa como a brasileira, os cidadãos devem assumir a responsabilidade de ajudar a escolher seus lĂ­deres polĂ­ticos.

"As pesquisas mostram que, nos Ășltimos 20 anos, se o voto não fosse obrigatório, não menos que 40% dos eleitores iriam votar. Ainda assim, o eleitorado entende o ato de votar como um ato cĂ­vico que faz parte de sua vida polĂ­tica – a ponto de, na redemocratização, após a ditadura militar, [o direito a] votar para presidente em eleições diretas ter sido um dos pontos centrais das campanhas que envolveram grande parte da população", destacou Rachel.

De acordo com a cientista polĂ­tica, as pesquisas existentes indicam que a maioria dos eleitores que votam por vontade própria possuem maiores escolaridade e renda média, mas também exigem campanhas pĂșblicas especĂ­ficas.

"O acesso à informação geral e à informação polĂ­tica é um fator central para a mobilização polĂ­tica e esses grupos [no geral] tĂȘm maior acesso, contudo, dependem mais de campanhas especĂ­ficas. Neste ano, por exemplo, vimos a campanha do TSE destinada a estimular o envolvimento dos mais jovens", frisou Rachel, que também espera uma menor abstenção eleitoral para este ano, mas ao contrĂĄrio de Lavareda, defende a manutenção do voto obrigatório para os demais eleitores.

"Entendo o voto obrigatório como um dever cĂ­vico muito positivo. O eleitor deve praticar a responsabilidade pela escolha dos representantes que votam por ele no Congresso, assembleias ou câmaras municipais. O que pode ser aperfeiçoado no caso brasileiro é a organização do sistema partidĂĄrio, de forma que os partidos de fato consigam organizar a informação polĂ­tica para os eleitores, pois sabemos que a média do eleitoral tem dificuldades em localizar-se no sistema de partidos e definir as escolhas de deputados federais, estaduais e senadores em um sistema partidĂĄrio fragmentado como é o sistema brasileiro", explicou.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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