Campo Grande e suas histórias por Luiz Carlos Franco

Hoje é o dia em que completo 63 anos, gostaria de deixar registrado aqui minhas lindas lembranças dos meus primeiros anos de história com minha cidade. Quando nasci minha linda morena tinha 60 anos e por volta de 75 mil habitantes. Nosso prefeito era Wilson Barbosa Martins, que teve linda história política. Minhas primeiras imagens de vida vem de qdo tinha 2 ou 3 anos, morando na região do antigo jardim paulista, de suas ruas poeirentas e na chuva muito barro. Me vem a mente costumes antigos da nossa cidade e marcantes para uma criança, como por exemplo um enterro que minha mãe foi e o féretro era levado pelas ruas da cidade, a multidão seguia o caixão, a pé, rezando e chorando até o cemitério, depois de ter velado o morto na sala de casa e com os pés voltados para a porta de saída, como manda a tradição.

Dos primeiros jogos de futebol descalço no meio da rua, de onde invariavelmente se voltava sem o tampão do dedo. Do primeiro dia de aula na igreja santo Afonso onde funcionava uma única sala de aula. Ficava no bairro caiçara próximo ao complexo elétrico da antiga Enersul. Posteriormente fui estudar no colégio José Antônio Pereira, construído por volta de 1. 966. Eu e meu irmão estudávamos no período da tarde. De manhã bem cedo saíamos com minha mãe a pé, não tinha ônibus ainda. Nos separávamos na praça cabeça de boi, em frente do bar do Nagáta próximo aos trilhos, ela seguia para o bairro Planalto onde trabalhava de lavadeira e nos desciamos pela antiga Y Juca Pirama e seus paralelepípedos, com um grande canteiro central e seus ingazeiros monumentais. Entre um ingá, fruta doce e saborosa, nunca mais vi, e uma corrida, chegavamos ao jornal A Luta Matogrossense, na sete de setembro próximo a Rui Barbosa. Jornal famoso pelas suas manchetes sanguinolentas que realçavam, em letras garrafais, os crimes da noite anterior, que aconteciam principalmente na sete de setembro mesmo, rua das casas de prostituição. Saíamos gritando, tinha disputa entre os moleques para ver quem gritava mais alto e vendia mais " olha a luta matogrossense de hoje" em seguida gritavamos a manchete do dia para chamar a atenção do freguês e assim vendia tudo rapidamente pra sobrar um tempo pra uma peladinha na areia do parque da praça Ary Coelho onde os gols eram demarcados pelos nossos chinelos ou pelas alpargatas com solado de cordas. Da década sessenta da minha cidade e da minha primeira década de vida trago cheiros, sabores, cores e odores e, principalmente os ensinamentos que formaram o indivíduo que me tornei. Obrigado meu Deus por tudo, pelas vitórias e principalmente as derrotas que forjam o caráter. Bom domingo meus queridos.