Indicadores colhidos pelos pesquisadores em CuiabĂĄ apontam que as arboviroses atingem a população negra com maior intensidade. Considerando as mulheres diagnosticadas com dengue entre 2014 e 2020, 54,79% eram negras, 14,85% brancas e 0,39% indĂgenas. Para o restante dos casos, não hĂĄ informação sobre raça ou etnia.
Entre os homens, os nĂșmeros são similares: 54,85% negros, 13,06% brancos, 0,72% indĂgenas e 31,10% ignorados. Os especialistas observam que as desigualdades raciais e de gĂȘnero, as condições de moradia e a exposição a contextos de maior vulnerabilidade urbana e de ausĂȘncia de direitos, como saneamento bĂĄsico e acesso à serviços de saĂșde, são fatores intimamente relacionados com a incidĂȘncia de taxas dessas doenças.
"Quando chega o verão, vocĂȘ começa ver as recomendações: 'cuide do seu jardim, tire o vaso da planta, faça isso, faça aquilo'. HĂĄ uma propaganda nacional que parece que nós vamos resolver todo o problema da dengue desse jeito, sendo que, nas ĂĄreas periféricas, o acesso ao saneamento é desigual. E a falta de saneamento favorece a transmissão da doença", frisa Diosmar.
Um outro estudo publicado pela Associação de Pesquisa Iyaleta - concluĂdo no ano passado - apresentou contribuições para o Plano Nacional de Adaptação (PNA), instituĂdo por meio de portaria do Ministério do Meio Ambiente, em maio de 2016, após um processo de escuta de diferentes setores da sociedade. Seu objetivo é orientar gestores pĂșblicos na adoção de iniciativas com o objetivo de minimizar o risco climĂĄtico no longo prazo e reduzir a vulnerabilidade à crise do clima.
Em setembro, foi instituĂdo pelo governo federal um grupo técnico para elaborar proposta de atualização do PNA, ouvindo a sociedade civil. Para Diosmar, é preciso pensar diversas medidas. Entre elas, ele menciona a urgĂȘncia de uma polĂtica de arborização. "Cada vez mais a gente vai precisar de ĂĄreas verdes", preconiza.
Ele cita também a necessidade de polĂticas pĂșblicas setoriais, territoriais e locais. "Precisamos de estados e municĂpios com polĂticas de moradia, de saneamento, de saĂșde e de educação integradas. Precisamos olhar o saneamento como parte de um processo de educação em tempo de mudanças climĂĄticas, precisamos de moradia que se afaste desse modelo que aprisiona, onde as pessoas das periferias das grandes cidades vivem dentro de pequenas casas de seis metros quadrados", finaliza.
Fonte: AgĂȘncia Brasil