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Anvisa autoriza pesquisa em pacientes com leucemia linfoide aguda B

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto (Fundndherp), em parceria com o Instituto Butantan, a iniciar ensaio clínico no Brasil com um medicamento a base de células CAR-T em pacientes com leucemia linfoide aguda B e linfoma não Hodgkin B, recidivados e refratários (ou seja, em casos de reaparecimento da doença ou de resistência ao tratamento padrão).

Por PH em 27/09/2023 às 15:27:23

A AgĂȘncia Nacional de Vigilância SanitĂĄria (Anvisa) autorizou a Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto (Fundndherp), em parceria com o Instituto Butantan, a iniciar ensaio clĂ­nico no Brasil com um medicamento a base de células CAR-T em pacientes com leucemia linfoide aguda B e linfoma não Hodgkin B, recidivados e refratĂĄrios (ou seja, em casos de reaparecimento da doença ou de resistĂȘncia ao tratamento padrão). Os estudos estão em fase clĂ­nica inicial, quando o objetivo é avaliar a segurança e a eficĂĄcia.

A aprovação do ensaio clĂ­nico com as células geneticamente modificadas é parte de um projeto inovador de colaboração regulatória entre a Anvisa e pesquisadores e desenvolvedores brasileiros visando incentivar o desenvolvimento de produtos de terapias avançadas disponĂ­veis no Sistema Único de SaĂșde (SUS).

Segundo a Anvisa, o tratamento consiste na reprogramação das próprias células do paciente para atacar e destruir o câncer de forma precisa. Em laboratório, é feita a transferĂȘncia de genes de interesse para as células de defesa (linfócito T) do paciente.

Nessa forma de tratamento, as células T do paciente (um tipo de célula do sistema imunológico) são alteradas em laboratório para reconhecer e atacar as células cancerĂ­genas ou tumorais. O termo CAR refere-se a um receptor de antĂ­geno quimérico (chimeric antigen receptor, em inglĂȘs). O procedimento jĂĄ é adotado nos Estados Unidos e em outros paĂ­ses para tratar linfomas e leucemias avançadas como Ășltimo recurso.

"Em janeiro deste ano, a Fundherp e o Instituto Butantan foram selecionados através do Edital de Chamamento 17/2022. Isso deu inĂ­cio a um suporte regulatório intensificado para aprimorar e acelerar a fase de busca de dados pré-clĂ­nicos para inĂ­cio da fase de desenvolvimento clĂ­nico do produto. Foram 104 dias de avaliação documental realizada pela Anvisa e 144 dias de respostas às exigĂȘncias trabalhadas pela Fundherp", explicou a Anvisa.

Revisões frequentes

A partir de agora, o estudo serĂĄ acompanhado com revisões frequentes dos dados e informações da pesquisa, com ações planejadas até dezembro de 2024, para monitorar de perto o desenvolvimento do produto.

Se os resultados forem bons, o objetivo é registrar o produto rapidamente para que as pessoas tenham acesso a uma opção de tratamento seguro, eficaz e de alta qualidade disponĂ­vel no SUS.

Segundo a Anvisa, desde 2020, a agĂȘncia registrou trĂȘs produtos de terapia gĂȘnica, do tipo CAR-T, para tratamento de leucemias, linfomas e mielomas, e dois produtos de terapia gĂȘnica para doenças genéticas raras, desenvolvidos por empresas farmacĂȘuticas biotecnológicas internacionais. No momento, mais de 40 ensaios clĂ­nicos com produtos de terapia avançada (PTAs) experimentais estão acontecendo no paĂ­s, após a aprovação da Anvisa.

Tratamento em Ribeirão Preto

Os primeiros estudos no Brasil começaram entre pacientes em tratamento no Hospital das ClĂ­nicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, no interior paulista, em 2019.

Nos Estados Unidos, o FDA (agĂȘncia reguladora de saĂșde) fez a liberação para uso da indĂșstria farmacĂȘutica em 2017. No Brasil, o uso da indĂșstria farmacĂȘutica começou em janeiro deste ano.

Para quem pode pagar o tratamento, o custo é de cerca de R$ 2 milhões. Como a terapia celular ainda estava em fase experimental no Brasil, os pacientes foram tratados de forma compassiva, ou seja, por decisão médica, quando o câncer estĂĄ em estĂĄgio avançado e não hĂĄ alternativas de terapia.

No programa de tratamento, um dos pacientes estava com linfoma não-Hodgkin. "Cerca de um mĂȘs após a produção dessas células, podemos infundi-las no sangue. Então, as células vão se direcionar contra as células do tumor, porque estão capacitadas a fazer isso, para poder combater os tumores, no caso desse paciente, o linfoma. Ele teve uma remissão completa um mĂȘs depois da injeção dessas células", explicou o professor de hematologia, hemoterapia e terapia celular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Vanderson Rocha, também coordenador nacional de terapia celular da rede D'Or.

Segundo Rocha, o primeiro caso de remissão da doença por meio dessa técnica no paĂ­s ocorreu em 2019, mas o paciente morreu por outra causa dois meses depois do tratamento.

"O paciente obteve uma remissão parcial, mas pode ser que, naquele momento, ainda tivesse tempo de responder [totalmente ao tratamento]", detalha o médico.

Em 2019, a reportagem da AgĂȘncia Brasil contou a história do aposentado Vamberto Castro, que, aos 62 anos, estava com linfoma em estado grave e sem resposta a tratamentos convencionais.

Cerca de 20 dias após o inĂ­cio do tratamento, a resposta de saĂșde do paciente foi promissora: os exames passaram a mostrar que as células cancerĂ­genas desapareceram. No fim do mesmo ano, no entanto, Vamberto morreu em decorrĂȘncia de um acidente doméstico, não relacionado à doença.

Até maio de 2023, 14 pacientes haviam sido tratados com o CAR-T Cell. Todos os pacientes tiveram remissão de pelo menos 60% dos tumores e todos se trataram na rede do SUS.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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