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Segurança Ă© mais do que criar barreiras à escola, dizem especialistas

Na entrada da escola, barreiras. Nas cercanias, policiais por todos os lados. Botões escondidos de pedidos de socorro. Quais são, afinal, as...

Por PH em 13/04/2023 às 09:50:30
Foto : Marcelo Camargo/Agência Brasil

Foto : Marcelo Camargo/Agência Brasil

Na entrada da escola, barreiras. Nas cercanias, policiais por todos os lados. Botões escondidos de pedidos de socorro. Quais são, afinal, as medidas mais adequadas como prevenção à violĂȘncia em unidades de ensino? Para especialistas no tema, as soluções principais para temores de ameaças não estão em medidas paliativas.

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Na opinião da especialista Katia Dantas, consultora para implementação de prĂĄticas em proteção infantil e ambientes escolares, a violĂȘncia que tem ocorrido em unidades de ensino é multifacetada e complexa. "A gente precisa entender que segurança é diferente de proteção.

Colocar um segurança na porta não vai resolver o problema. Hoje, observamos que muitos dos atentados são de crianças cometendo violĂȘncia contra outras crianças e professores. São raros os que vĂȘm de fora pra cometer um atentado dentro da escola".

O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), Heleno AraĂșjo, também entende que desigualdades marcantes nos ambientes escolares contextualizam o problema. "HĂĄ muito a ser feito em busca de um ambiente minimamente em condições de garantir segurança e paz, tranquilidade e solidariedade dentro do espaço da escola e fora dela". Escolas em boas condições e outras sem energia elétrica, por exemplo, Profissionais que recebem em dia e com adequadas condições, outros não.

Para se ter uma ideia da complexidade humana, o Brasil tem 2,2 milhões de professores e mais de 1,9 milhão de outros profissionais que trabalham na educação - população acima de 4 milhões de pessoas.

As escolas são muito diferentes umas das outras em um paĂ­s do tamanho de um continente. Ele conta que recebeu foto de uma turma em municĂ­pio goiano, em que as crianças apareciam em uma espécie de exercĂ­cio de tiro, como tarefa de uma escola cĂ­vico-militar. "Isso desconfigura completamente a perspectiva de formação humana que nós queremos. Então, é importante que a famĂ­lia dĂȘ bom exemplo às crianças"

Parceria no currĂ­culo

Katia Dantas defende uma série de medidas, considerando que grande parte desses atentados tem foco em violĂȘncia sistemĂĄtica na vida da pessoa que agride, como histórico de bullying, intimidações e abusos familiares. É difĂ­cil que alguém com essa caracterĂ­stica não tenha demonstrado sinais na escola.

"É urgente que as escolas aprendam a identificar um abuso. A gente precisa começar a modificar essa percepção. Hoje, por exemplo, nós sabemos que as habilidades socioemocionais partem da base curricular nacional. Mas pouquĂ­ssimos pais sabem exigir das escolas", diz Katia Dantas. A parceria entre famĂ­lia e escola não deve ficar na teoria, uma vez que as redes sociais e os jogos eletrônicos tĂȘm ocupado espaço central na vida de crianças e adolescentes.

Também por esse motivo, conforme avalia Heleno AraĂșjo, na CNTE, é fundamental fortalecer a participação social, a gestão democrĂĄtica, a participação de pais, mães, responsĂĄveis, e grupos organizados da comunidade onde a escola estĂĄ inserida. "Todos devem estar envolvidos no processo de discussão, no Conselho Escolar, de um projeto polĂ­tico-pedagógico para escola. A participação social e o envolvimento com as polĂ­ticas da escola, o sentimento de pertencimento, tudo é importante".

Orientações

A especialista entende que é vital que professores e outros funcionĂĄrios do ambiente escolar possam receber orientações em caso de violĂȘncia. "Que eles aprendam a saber o que fazer do mesmo jeito que muitas escolas tĂȘm treinamento para incĂȘndio, evacuação, por exemplo". Mas um treinamento com caracterĂ­stica pedagógica sem criar medo, pânico ou alarde nas crianças.

"Mais do que isso, os profissionais precisam estar treinados em como identificar situações de conflito, mudanças de comportamento que possam estar demonstrando um sofrimento dessa criança". A resposta, segundo ela, deve ser da escola como um todo e não só de professores. "É importantĂ­ssimo que todos os profissionais da escola estejam treinados para fazer a proteção infantil e identificar essas situações".

Na mesma linha, o presidente da CNTE defende que todos os profissionais da educação tĂȘm que ser profissionalizados e receber cursos para as suas atividades. "Porteiro tem que ter curso de infraestrutura e meio ambiente. Temos que ter uma formação inicial voltada para as concepções de educação".

Isso inclui saber olhar para algum sinal de que hĂĄ algo de errado. "Os profissionais devem ter sim formação em atendimento e primeiros socorros, atenção, perceber o olhar dos alunos". AraĂșjo lamenta que nem todas as escolas, por exemplo, dispõem de equipes de psicólogos e de outros profissionais de apoio. Ele acredita que a segurança começa com a possibilidade de que os profissionais estejam conectados à complexidade dos seres humanos.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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