Esse avanço de 4,6 pontos em 12 meses foi o maior registrado na comparação anual desde março de 2016, informou a CNC. O indicador subiu pelo quarto mĂȘs consecutivo.
Na comparação com outubro de 2021, o nĂșmero de famĂlias com dĂvidas a vencer subiu 4,6 pontos percentuais, menor taxa anual desde julho de 2021, disse à AgĂȘncia Brasil a economista da CNC Izis Ferreira. Segundo Izis, nessa base de comparação, o aumento tem sido cada vez menor. A economista destacou que hoje ainda existe uma proporção de endividados mais alta do que havia em outubro de 2021, mas disse que a taxa anual vem desacelerando, ficando "cada vez menos expressiva".
Izis Ferreira ressaltou que, atualmente, as pessoas circulam mais pelas ruas e podem consumir produtos e serviços sem nenhuma restrição. O contexto econômico mostra que a inflação estĂĄ dando uma trégua, temporariamente e ainda em nĂvel elevado, mas tem aliviado um pouco a renda disponĂvel. "Isso se refletiu na proporção de endividamento, embora o nĂvel de endividamento ainda seja muito alto."
A economista ressaltou que, em 2021, a proporção de endividados cresceu mais entre famĂlias de maior renda (5,8 pontos percentuais) que entre as de menor renda (4,3 pontos percentuais ). De setembro para outubro deste ano, a redução foi mais significativa entre os consumidores de renda elevada (-0,5 pontos percentuais). "Temos 80,2% de famĂlias de baixa e média renda endividadas hoje e 75,4% de famĂlias de renda alta endividadas. Na comparação com outubro do ano passado, o endividamento foi maior para o grupo de alta renda, que retomou o consumo de serviços em um ambiente em que estes estão mais caros. Estamos falando de passagens aéreas, viagens, salão de beleza, alimentação fora do domicĂlio. Tudo isso cresceu muito de preço no Ășltimo ano."
Os orçamentos domésticos continuam apertados, principalmente entre as famĂlias de menor renda, apesar da retomada progressiva do fôlego na economia, disse o presidente da CNC, José Roberto Tadros. "O nĂvel de endividamento alto e os juros elevados pioram as despesas financeiras associadas às dĂvidas em andamento, ficando mais difĂcil quitar todos os compromissos financeiros dentro do mĂȘs."
Segundo o Banco Central, os juros anuais em todas as linhas de crédito para as pessoas fĂsicas atingiram 53,7% em média, em setembro, com evolução de 12,5 pontos percentuais. Izis Ferreira afirmou, contudo, que a proporção de famĂlias com dĂvidas atrasadas por mais de 90 dias vem se reduzindo desde abril. Em outubro, esse indicador alcançou 41,9% dos inadimplentes, menor proporção desde dezembro de 2021.
O cartão de crédito mantém-se, jĂĄ hĂĄ algum tempo, como principal tipo de dĂvida das famĂlias brasileiras, indica a Peic. Aumentou de 84,9%, em outubro do ano passado, para 86,2% em igual mĂȘs deste ano. Do mesmo modo, houve expansão no cheque especial, de 4,9% para 5,1%, na mesma base de comparação." São duas modalidades de fĂĄcil acesso, além de serem meios de pagamento muito difundidos. E, muitas vezes, as famĂlias consideram o limite aprovado como renda disponĂvel, assim como o cheque especial. O que aconteceu, ao longo do ano, é que as duas modalidades foram suportando o consumo, especialmente de gĂȘneros de primeira necessidade, para consumo imediato, e o orçamento não deu. AĂ, como a famĂlia não tem reserva de emergĂȘncia, usou o cheque especial e o cartão de crédito."
Izis salientou que, nesse caso, além da questão conjuntural, hĂĄ o fator comportamental. Além de ser muito fĂĄcil de usar e muito divulgado, o cartão de crédito enfrenta promessas de benefĂcios e incentivos de muitas lojas. Isso, de certa forma, incentiva as pessoas a usar mais o cartão de crédito. "Por isso, chegamos a 86,2% de endividados no cartão. Só que o cartão é uma faca de dois gumes. Ele é muito fĂĄcil, mas é muito caro."
A taxa de juros média do rotativo do cartão alcança em torno de 380% ao ano, embora existam instituições que pratiquem juros bem maiores que a média. "AĂ, a pessoa, quando não consegue pagar toda a fatura, fica sujeita a essa taxa de juros que é a maior do mercado de crédito. A taxa do cheque especial é a segunda maior. Então, o que a gente vĂȘ são as modalidades que custam mais caro apresentarem crescimento quando se olha o resultado de outubro em relação a outubro do ano passado."
JĂĄ o crédito consignado, um dos tipos de crédito com juros mais baixos (cerca de 25% ao ano, segundo dados do Banco Central, perdeu espaço no endividamento dos brasileiros: 5% do total de consumidores endividados tem dĂvidas consignadas atualmente, ante 7% em outubro de 2021.
*Colaborou Wellton MĂĄximo
Fonte: EBC