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InadimplĂȘncia atinge maior taxa anual desde 2016, informa CNC

O volume de famílias com contas atrasadas no país subiu em outubro e atingiu a maior taxa anual em seis anos, revelou hoje (7) a...

Por PH em 07/11/2022 às 18:55:07
Foto : Divulgação

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O volume de famĂ­lias com contas atrasadas no paĂ­s subiu em outubro e atingiu a maior taxa anual em seis anos, revelou hoje (7) a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Segundo a Pesquisa de Endividamento e InadimplĂȘncia do Consumidor (Peic), divulgada nesta segunda-feira pela CNC, a proporção de famĂ­lias inadimplentes ficou em 30,3% em no mĂȘs passado, alta de 0,3 ponto percentual em relação a setembro, e de 4,6 pontos em relação a outubro do ano passado.

Esse avanço de 4,6 pontos em 12 meses foi o maior registrado na comparação anual desde março de 2016, informou a CNC. O indicador subiu pelo quarto mĂȘs consecutivo.


O aumento na inadimplĂȘncia ocorreu mesmo com a relativa estabilidade na proporção de endividados. Em outubro, o percentual das famĂ­lias com dĂ­vidas a vencer chegou a 79,2%. O indicador caiu 0,1 ponto na comparação com setembro, mas subiu 4,6 pontos percentuais em relação a outubro de 2021.


De acordo com a CNC, o aumento da inadimplĂȘncia pode ser explicado pela combinação de grande nĂ­vel de endividamento e juros altos. Na avaliação da entidade, esse cenĂĄrio dificulta a quitação de todos os compromissos financeiros dentro do mĂȘs, mesmo com a melhora progressiva no mercado de trabalho, a queda da inflação e as polĂ­ticas de transferĂȘncia de renda reduzindo a proporção de endividados.

Estados e renda

Na divisão por estados, a inadimplĂȘncia cresceu em 12 das 27 unidades da Federação, com destaque para a Bahia, onde 43,7% das famĂ­lias relataram estar com as contas atrasadas. Em relação ao endividamento, a proporção de famĂ­lias com débitos a vencer subiu em 17 unidades da Federação. A maior alta foi no ParanĂĄ, onde 95,8% das famĂ­lias afirmaram estar endividadas.


Na comparação por renda, a taxa de endividamento aumentou nos Ășltimos 12 meses tanto entre as famĂ­lias de baixa e média renda (que ganham até dez salĂĄrios mĂ­nimos) quanto entre as de maior renda (que recebem mais que dez salĂĄrios mĂ­nimos). Segundo a CNC, as dĂ­vidas no cartão de crédito e no cheque especial, que cobram os juros mais altos, estão pressionando o aumento na proporção de endividados.

Desaceleração

Na comparação com outubro de 2021, o nĂșmero de famĂ­lias com dĂ­vidas a vencer subiu 4,6 pontos percentuais, menor taxa anual desde julho de 2021, disse à AgĂȘncia Brasil a economista da CNC Izis Ferreira. Segundo Izis, nessa base de comparação, o aumento tem sido cada vez menor. A economista destacou que hoje ainda existe uma proporção de endividados mais alta do que havia em outubro de 2021, mas disse que a taxa anual vem desacelerando, ficando "cada vez menos expressiva".

Izis Ferreira ressaltou que, atualmente, as pessoas circulam mais pelas ruas e podem consumir produtos e serviços sem nenhuma restrição. O contexto econômico mostra que a inflação estĂĄ dando uma trégua, temporariamente e ainda em nĂ­vel elevado, mas tem aliviado um pouco a renda disponĂ­vel. "Isso se refletiu na proporção de endividamento, embora o nĂ­vel de endividamento ainda seja muito alto."

A economista ressaltou que, em 2021, a proporção de endividados cresceu mais entre famĂ­lias de maior renda (5,8 pontos percentuais) que entre as de menor renda (4,3 pontos percentuais ). De setembro para outubro deste ano, a redução foi mais significativa entre os consumidores de renda elevada (-0,5 pontos percentuais). "Temos 80,2% de famĂ­lias de baixa e média renda endividadas hoje e 75,4% de famĂ­lias de renda alta endividadas. Na comparação com outubro do ano passado, o endividamento foi maior para o grupo de alta renda, que retomou o consumo de serviços em um ambiente em que estes estão mais caros. Estamos falando de passagens aéreas, viagens, salão de beleza, alimentação fora do domicĂ­lio. Tudo isso cresceu muito de preço no Ășltimo ano."


Passagens aéreas pesam muito no item de viagens para famĂ­lias de renda elevada, que as compram com cartão de crédito, disse a economista. A retomada de serviços por esse grupo, em um ambiente em que hĂĄ inflação de serviços alta, levou-o a um aumento mais expressivo na proporção de endividados. Mas o grupo de menor renda ainda tem famĂ­lias mais numerosas quando se olha o total de endividados no Brasil, destacou.

Juros altos

Os orçamentos domésticos continuam apertados, principalmente entre as famĂ­lias de menor renda, apesar da retomada progressiva do fôlego na economia, disse o presidente da CNC, José Roberto Tadros. "O nĂ­vel de endividamento alto e os juros elevados pioram as despesas financeiras associadas às dĂ­vidas em andamento, ficando mais difĂ­cil quitar todos os compromissos financeiros dentro do mĂȘs."

Segundo o Banco Central, os juros anuais em todas as linhas de crédito para as pessoas fĂ­sicas atingiram 53,7% em média, em setembro, com evolução de 12,5 pontos percentuais. Izis Ferreira afirmou, contudo, que a proporção de famĂ­lias com dĂ­vidas atrasadas por mais de 90 dias vem se reduzindo desde abril. Em outubro, esse indicador alcançou 41,9% dos inadimplentes, menor proporção desde dezembro de 2021.


Segundo Izis, os consumidores tĂȘm buscado renegociar as dĂ­vidas atrasadas. A porcentagem de famĂ­lias que afirmaram não ter condições de pagar as contas caiu 1 ponto percentual de setembro para outubro, representando 10,6% do total de famĂ­lias.

Principais dĂ­vidas

O cartão de crédito mantém-se, jĂĄ hĂĄ algum tempo, como principal tipo de dĂ­vida das famĂ­lias brasileiras, indica a Peic. Aumentou de 84,9%, em outubro do ano passado, para 86,2% em igual mĂȘs deste ano. Do mesmo modo, houve expansão no cheque especial, de 4,9% para 5,1%, na mesma base de comparação." São duas modalidades de fĂĄcil acesso, além de serem meios de pagamento muito difundidos. E, muitas vezes, as famĂ­lias consideram o limite aprovado como renda disponĂ­vel, assim como o cheque especial. O que aconteceu, ao longo do ano, é que as duas modalidades foram suportando o consumo, especialmente de gĂȘneros de primeira necessidade, para consumo imediato, e o orçamento não deu. AĂ­, como a famĂ­lia não tem reserva de emergĂȘncia, usou o cheque especial e o cartão de crédito."

Izis salientou que, nesse caso, além da questão conjuntural, hĂĄ o fator comportamental. Além de ser muito fĂĄcil de usar e muito divulgado, o cartão de crédito enfrenta promessas de benefĂ­cios e incentivos de muitas lojas. Isso, de certa forma, incentiva as pessoas a usar mais o cartão de crédito. "Por isso, chegamos a 86,2% de endividados no cartão. Só que o cartão é uma faca de dois gumes. Ele é muito fĂĄcil, mas é muito caro."

A taxa de juros média do rotativo do cartão alcança em torno de 380% ao ano, embora existam instituições que pratiquem juros bem maiores que a média. "AĂ­, a pessoa, quando não consegue pagar toda a fatura, fica sujeita a essa taxa de juros que é a maior do mercado de crédito. A taxa do cheque especial é a segunda maior. Então, o que a gente vĂȘ são as modalidades que custam mais caro apresentarem crescimento quando se olha o resultado de outubro em relação a outubro do ano passado."

JĂĄ o crédito consignado, um dos tipos de crédito com juros mais baixos (cerca de 25% ao ano, segundo dados do Banco Central, perdeu espaço no endividamento dos brasileiros: 5% do total de consumidores endividados tem dĂ­vidas consignadas atualmente, ante 7% em outubro de 2021.

*Colaborou Wellton MĂĄximo

Fonte: EBC

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