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Eleições 2022: É importante reconhecer a vontade do povo, diz diplomata dos EUA

Por PH em 24/09/2022 às 21:48:20
Christopher Johnson, porta-voz em português do Departamento de Estado dos EUACredit...Foto: reprodução/Twitter

Christopher Johnson, porta-voz em português do Departamento de Estado dos EUACredit...Foto: reprodução/Twitter



Aline Bronzati - A dez dias das eleições no Brasil, os Estados Unidos monitoram atentos a campanha, com a premissa de que a vontade do povo tem de ser reconhecida, de acordo com o novo porta-voz do Departamento de Estado dos EUA para países de língua portuguesa, Christopher Johnson. Ainda que pesem riscos de questionamentos quanto ao resultado, como tem ameaçado o presidente Jair Bolsonaro, o governo norte-americano prefere não se comprometer antes e vai esperar o fim da contagem das urnas para se posicionar a respeito, afirma o diplomata.

Na última vez em que o Brasil enfrentou um caos político semelhante ao visto agora, em 1964, os Estados Unidos, sob a liderança de Lyndon Johnson, reconheceram imediatamente a gestão dos militares, que derrubaram um governo eleito de forma democrática. Sobre a possibilidade de os EUA reescreverem a história, adotando uma postura diferente, Johnson diz que, primeiro, é preciso ter os resultados em mãos e entender o contexto local, mas destaca a importância do processo eleitoral e da democracia.

"É importante reconhecer a vontade do povo. Então, não posso falar antes de esses resultados chegarem. Mas vamos estar atentos aos resultados mesmo", afirma o diplomata, em entrevista ao Broadcast Político, durante a 77ª Assembleia-Geral das Nações Unidas (AGNU).

Durante rápida passagem em Nova York, para discursar a centenas de chefes de Estado, Bolsonaro voltou a desmerecer pesquisas eleitorais, que apontam o seu rival, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à frente, aproveitou o discurso na ONU para falar ao público interno, a despeito da plateia internacional, e reiterou que vai ganhar no primeiro turno.

"Essas pesquisas não valem de nadaÂ… Não vou falar em hipóteses. Vamos ganhar no primeiro turno", disse o presidente brasileiro, a jornalistas, após ser questionado se pretende deixar o cargo caso perca as eleições.

No único encontro em que teve com Bolsonaro, na Cúpula das Américas, em junho, o presidente dos EUA deixou claro que não aceitaria intervenções nas eleições de outubro. O brasileiro, por sua vez, defendeu "eleições limpas, confiáveis e auditáveis" e prometeu que deixaria o governo como chegou: de forma democrática.

Johnson, que assumiu como porta-voz do Departamento de Estado dos EUA para países de língua portuguesa, em agosto último, reforça a importância do regime democrático para os norte-americanos, mas admite que o modelo "enfrenta desafios" em vários países. "Estamos atentos aos resultados de eleições, especialmente na América Latina, porque quase todos os países se comprometeram com a democracia, e queremos continuar assegurando que esses valores continuem porque são os que mais beneficiam os povos", afirma.

Ameaças ao sistema eleitoral e questionamentos sobre as urnas eletrônicas feitos por Bolsonaro e apoiadores, que incluem grandes empresários brasileiros, elevaram a preocupação com a corrida presidencial dentro e fora do Brasil. Nos EUA, a atenção com o processo cresceu após um alerta feito por uma comitiva, formada por organizações da sociedade civil brasileira e liderada pelo Washington Brazil Office (WBO), a parlamentares norte-americanos, quanto aos riscos à democracia no País e a importância do reconhecimento rápido por parte do governo Joe Biden ao resultado das urnas.

Desde então, uma série de ações têm sido adotadas como resposta. Pesa, sobretudo, o fato de os EUA já terem enfrentado situação similar na última corrida à Casa Branca, quando o ex-presidente Donald Trump também questionou a vitória de seu oponente, o democrata Joe Biden, servindo de trampolim para episódios mais drásticos como, por exemplo, a invasão do Capitólio, em janeiro de 2021.

No início do mês, deputados e senadores norte-americanos enviaram uma carta ao presidente dos EUA, alertando-o quanto ao risco de golpe no Brasil frente ao que classificaram como "ameaças sem precedentes às eleições gerais" no País, mencionando ataques feitos pelo presidente Bolsonaro. No documento, assinado por 39 parlamentares, o grupo pede que o chefe da Casa Branca reconheça imediatamente o resultado do pleito. Defende ainda que o Brasil seja isolado com medidas duras sob qualquer tentativa de subversão ao processo eleitoral no País.

Antes disso, monções foram apresentadas no Senado e na Câmara dos EUA em defesa à democracia no Brasil. Um dos atos, capitaneados pelo senador americano Bernie Sanders pede eleições "livres, justas, transparentes e pacíficas" no País.

Embora com menos ênfase, o Executivo também tem se manifestado sobre o pleito no Brasil. Em felicitação ao povo brasileiro pelos 200 anos de sua independência, celebrados no dia 07 de setembro, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, destacou a importância do compromisso com a democracia. Na sequência, a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, disse, em coletiva de imprensa, que o governo dos EUA segue monitorando o pleito no Brasil e reafirmou a confiança nas instituições democráticas do País.

"Os Estados Unidos acreditam que os valores democráticos são importantes para os povos norte-americanos e brasileiros. Essas instituições são fortes. Vamos ver os resultados das eleições no Brasil. Acreditamos que o importante é que esse processo aconteça", reforça Johnson.

Quanto ao discurso de Bolsonaro na Assembleia-Geral da ONU, que usou o palanque internacional para falar ao seu público doméstico, o diplomata enfatiza o compromisso do Brasil com as mudanças climáticas. Segundo ele, os EUA estão alinhados neste tema e, portanto, os dois países podem trabalhar em conjunto.

Sobre o fato de o presidente brasileiro não ter condenado a guerra na Ucrânia e criticado as sanções adotadas pelo Ocidente contra a Rússia, inclusive pelos Estados Unidos, Johnson afirma que os EUA não querem "dominar os países". "Queremos reforçar o princípio de soberania e a independência. Esse é um grande ponto que temos em comum, o Brasil e os Estados Unidos".

De acordo com o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, dentre as prioridades dos EUA na Assembleia-Geral da ONU, são três: a reforma da carta da Organização das Nações Unidas, assegurando um mundo mais próspero a pacífico após a Rússia violar o documento com a invasão à Ucrânia, o combate à insegurança alimentar e às mudanças climáticas.

"Estamos muito focados em assegurar como a comunidade internacional pode avançar nas tecnologias e energias limpas para fazer essa transição muito urgente", diz. "Temos muito pouco tempo", conclui Johnson, concordando que, apesar disso, o Brasil promete ser o país a lhe dar mais trabalho na nova função.

Fonte: Por POLÃTICA JB com Agência Estado

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