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Entidades mĂ©dicas esperam decisão da Anvisa sobre cigarro eletrônico

Sociedades médicas brasileiras esperam que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decida ainda este ano manter proibida a...

Por PH em 10/05/2022 às 10:34:27

Sociedades médicas brasileiras esperam que a AgĂȘncia Nacional de Vigilância SanitĂĄria (Anvisa) decida ainda este ano manter proibida a importação e venda de cigarros eletrônicos no Brasil. Em 2009, a agĂȘncia publicou resolução proibindo os chamados Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs), que agora passam por processo de discussão e atualização de informações técnicas.

A Anvisa estĂĄ na fase da Tomada PĂșblica de SubsĂ­dios, aberta a receber informações técnicas a respeito dos cigarros eletrônicos. "Esperamos que até o fim do ano tenhamos essa decisão. Mas o nosso papel agora é entregar à Anvisa todas as evidĂȘncias cientĂ­ficas comprovando os malefĂ­cios do cigarro eletrônico", disse Ricardo Meirelles, da Associação Médica Brasileira (AMB).

A AMB, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e entidades médicas, como a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), tĂȘm se unido em torno da proibição do comércio dos cigarros eletrônicos. Essas entidades alertaram a Anvisa sobre os prejuĂ­zos desse aparelho e tĂȘm lutado contra a informação falsa dos fabricantes, que afirmam que o cigarro eletrônico é alternativa mais saudĂĄvel ao cigarro convencional.

"VĂĄrios estudos comprovam que os Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs) causam danos à saĂșde. Eles podem causar irritação brônquica, inflamação em quem tem doença pulmonar obstrutiva crônica (Dpoc). Essas pessoas não podem usar o cigarro eletrônico de maneira nenhuma", afirmou Meirelles.

Aristóteles Alencar, da Sociedade Brasileira de Cardiologia, explicou que esses aparelhos produzem partĂ­culas ultrafinas. Essas partĂ­culas conseguem ultrapassar a barreira dos alvéolos do pulmão e caem na corrente sanguĂ­nea, provocando inflamação. "Quando essa inflamação ocorre no endotélio, que é a camada que reveste internamente o vaso, pode dar inĂ­cio a eventos cardiovasculares agudos, como o infarto e a sĂ­ndrome coronariana aguda, a angina do peito".

Esse tipo de cigarro, chamado de vapers pelos fabricantes, na intenção de desassociar à figura do cigarro, contém uma série de substâncias nocivas e cancerĂ­genas. Eles trazem, em sua composição, substâncias como nicotina, propilenoglicol e glicerol, ambos irritantes crônicos; acetona, etilenoglicol, formaldeĂ­do, entre outros produtos cancerĂ­genas e metais pesados (nĂ­quel, chumbo, cĂĄdmio, ferro, sódio e alumĂ­nio). Para atrair consumidores, são incluĂ­dos aditivos e aromatizantes como tabaco, mentol, chocolate, café e ĂĄlcool.

"O efeito protetor que se atribuĂ­a ao cigarro eletrônico não existe. Em paĂ­ses que liberaram esses produtos hĂĄ crescente aumento de doenças cardiovasculares na população abaixo de 50 anos", disse Alencar. "Diferente do cigarro convencional, que demora às vezes 20 ou 30 anos para manifestar doença no usuĂĄrio, o cigarro eletrônico tem mostrado essa agressividade em menos tempo", completou.

Outra substância perigosa encontrada em muitos desses cigarros é o tetrahidrocarbinol, ou THC. "É a substância que leva à dependĂȘncia do usuĂĄrio da maconha", explicou Meirelles. Segundo ele, os DEFs também podem conter óleo de haxixe e outras drogas ilĂ­citas.

Jovens e propaganda

Adolescentes são alvos das fabricantes de cigarros eletrônicos. O design dos aparelhos e as essĂȘncias oferecidas são pistas de que, apesar de indicarem o produto apenas a adultos, buscam chamar a atenção de jovens. A adoção de sabores mais infantis, a aplicação de cores na fumaça e até mesmo o design de alguns modelos não são atraentes ao pĂșblico adulto.

"A estratégia do sabor, por exemplo. Por mais que digam que não é um produto para criança, eu não conheço um adulto que use o sabor algodão-doce. Ele é bem caracterizado com essa ideia da juventude", afirmou Sabrina Presman, da Associação Brasileira de Estudo de Álcool e Outras Drogas (Abead).

Ela também cita a semelhança do aparelho com itens de uso diĂĄrio de um estudante, como canetas ou pen drives. "O próprio formato do cigarro eletrônico se confunde com as coisas do jovem. Ele é mais moderno e muitos pais não conseguem identificar o que é caneta, o que é lĂĄpis e o que é cigarro".

Paulo César CorrĂȘa, coordenador da comissão de tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), destacou que esses produtos são apresentados com slogans que tratam o cigarro convencional como ultrapassado e nocivo. A ideia é afastar essa mĂĄ publicidade dos cigarros eletrônicos. Segundo ele, existem evidĂȘncias de que hĂĄ trĂȘs vezes mais chances de pessoas que nunca fumaram passarem a fumar regularmente cigarros convencionais depois de usarem esses aparelhos.

CorrĂȘa também alertou sobre a estratégia da indĂșstria de cigarros eletrônicos em vender uma informação de que esse tipo de produto é menos nocivo que o cigarro convencional e que, portanto, trocar para os cigarros eletrônicos seria uma alternativa mais saudĂĄvel. Ele, no entanto, alerta: cigarros eletrônicos não são apenas feitos de vapor e ĂĄgua.

"Ainda que não tenhamos a descrição completa dos riscos epidemiológicos, as evidĂȘncias jĂĄ existentes permitem dizer que o produto é extremamente perigoso e danoso à saĂșde individual e à saĂșde pĂșblica".

Cigarro eletrônico

Os cigarros eletrônicos são aparelhos alimentados por bateria de lĂ­tio e um cartucho ou refil, que armazena o lĂ­quido. Esse aparelho tem um atomizador, que aquece e vaporiza a nicotina. O aparelho traz ainda um sensor, que é acionado no momento da tragada e ativa a bateria e a luz de led. Mas nem todos os cigarros eletrônicos vĂȘm com luz de led.

A temperatura de vaporização da resistĂȘncia é de 350°C. Nos cigarros convencionais, essa temperatura chega a 850°C. Ao serem aquecidos, os DEFs liberam um vapor lĂ­quido parecido com o cigarro convencional.

Os cigarros eletrônicos estão em sua quarta geração, onde é encontrada concentração maior de substâncias tóxicas. Existem ainda os cigarros de tabaco aquecido. São dispositivos eletrônicos para aquecer um bastão ou uma cĂĄpsula de tabaco comprimido a uma temperatura de 330°C. Dessa forma, produzem um aerossol inalĂĄvel.

"Esses aparelhos expõem o usuĂĄrio a emissões tóxicas, muitas das quais causam câncer", explicou ClĂĄudio Maierovitch, da Associação Brasileira de SaĂșde Coletiva.

Outro tipo de DEF se parece com um pen drive. São os sais de nicotina (nicotina + ĂĄcido benzóico). Esse tipo de cigarro provoca menos irritação no usuĂĄrio, facilitando a inalação de nicotina. E, assim, provoca maior dependĂȘncia. Os usuĂĄrios desse aparelho tĂȘm pouca resposta ao tratamento convencional da dependĂȘncia da nicotina. "Usar um dispositivo desse com 3% a 5% de nicotina equivale a fumar de dez a 15 cigarros por dia. Dispositivos com 7% de nicotina equivalem a mais de 20 cigarros por dia, cerca de um maço de cigarros", disse Meirelles.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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